terça-feira, 2 de outubro de 2012

A arte do desapego



Em uma sociedade consumista como vivemos é possível praticar o desapego? Na verdade no ponto de vista desta sociedade não existe nem ao menos tempo para pensar neste assunto. Mas vou fazer esta provocação e tomar seu tempo por alguns minutos para pensar nisto.

Consideramos dois tipos de desapego emocional e material. Tomando o emocional como ponto de partida vamos imaginar o termino de um relacionamento, é fácil deixar o parceiro ou parceira seguir em frente já que o relacionamento não deu certo? Com certeza você já conviveu com pessoas que tem um relacionamento ioiô, ou seja, mesmo com inúmeras brigas e desentendimentos, mesmo os dois tendo plena certeza que a história dos dois não existe a menor possibilidade de dar certo, os dois por alguma razão não deixam o outro seguir em frente. Para mim uma das possibilidades para este tipo de situação é o medo de ver o parceiro feliz ao lado de outra pessoal, pois desta forma você é obrigado a admitir que não fosse capaz de fazer o outro feliz e convenhamos admitir uma coisa desta não é para qualquer ser humano. Mas convenhamos que a capacidade de fazer o outro feliz é utopia, o que deveríamos colocar em mente é a possibilidade de compartilhar a felicidade do outro. Vale lembrar que mesmo a geração que vive o oba – oba, e que ninguém é de ninguém sofre do mesmo jeito no momento do desapego, basta observar as atualizações no FaceBook deste pessoal.

Outra questão ainda no lado emocional da coisa, esta no momento mais temido de qualquer ser humano, este mesmo, o momento que poucos querem tocar no assunto, o momento da morte. Sei que é difícil pensar nisto, mas imagine perder um ente querido? Alguns já passaram por esta experiência e sabe o quão complicado e desesperador é este momento. A idéia de não contar mais com esta pessoa até o fim da sua vida chega a levar muitas pessoas ao desespero, a ponto de parar de viver sua própria vida por não admitir o infortúnio de ter um ente querido retirado do seu conviveu. Não vou dar um depoimento pessoal aqui, mas já passei por este tipo de situação e a melhor forma de lidar com isso? É difícil dizer sem envolver religião ou filosofia. Ainda mas para nós, onde este assunto não é discutido, na verdade falar da morte é algo proibido, basta observar quando uma criança pergunta aos seus pais algo sobre este assunto, o desvio do assunto é imediato.



Lidar com desapego emocional não é tarefa fácil realmente, mas como somos humanos a dificuldade para nós sempre vem acompanhada. Para nossa evolução temos de lidar também com o desapego material. Não vou comparar os dois, vamos focar só no material agora.

Sem focar em um produto especifico apenas nos imaginemos por um segundo sem tecnologia nenhuma. Acabou a energia e todas as baterias descarregaram, só restou uma caixa de fosforo e algumas velas para trazer luz ao ambiente. O silencio para invadir todos os cômodos do local onde você se encontra. Sons a muito tempo esquecidos como o do vento, depois de muito tempo agora tocam seu ouvidos. A calmaria esta em todo lugar, não existe praticamente nenhuma maneira de entrar em contato contigo, a não ser a já praticamente extinta forma antiga de bater palmas a sua porta. E você ali se encontra. Apertando todos os interruptores possíveis para ver a luz quando a energia voltar, se certificando que deixou a televisão ligada para ouvir o barulho da vida retornando ao seu lar. A calmaria exterior se contrasta com a total inquietação interior, é possível ouvir palavrões e em casos extremos até o choro desesperado.

Após algum tempo, com as esperanças já se acabando dormir se torna a melhor opção possível e imaginável. Mas basta deitar na cama para descobrir que o sono não vem, seu corpo precisa de barulho, energia, LED, etc. Para alcançar seu estado de relaxamento permitindo você adormecer. Alguns decidem por sair para rua, em um caso deste é quase sempre a melhor opção. Dependendo do seu modo de vida, vai experimentar uma experiência nova que é conhecer seus vizinhos. A interação humana sem o intermédio de uma maquina será novamente possível em sua vida. Piadas direto da fonte, histórias reais e verdadeiras sem esperar um curtir ou um compartilhamento. E o sorriso compartilhado instantaneamente voltara a fazer parte da sua vida. Uma energia diferente da elétrica passa invadir o seu ser, quando de repente ouve um grito comemorativo em couro, a energia esta de volta. Aquilo que era muito precioso para você quando recebe de volta chega a dar um nó na garganta. Você se despede de todos e do desconhecido, e se conecta novamente a maquina que nos auxilia a levar nossas vidas adiante.

Um dia sem seu aparelho celular e o mesmo que um dia sem seu braço direito. Por mais que há dias você não receba uma ligação ou mensagem, você tem em sua mente a absoluta certeza que naquele dia todos estariam te ligando. Neste caso é frustrante encontrar seu aparelho sem nenhuma chamada perdida, mas é o que geralmente acontece.  Infelizmente ou consequentemente vivemos a era do Ter, não importa mais quem você é e sim o que você tem. São raras as pessoas que fazem algo focando simplesmente no resultado e nos benefícios que aquilo trará, a busca é por fazer algo para conquistar algo.

Observe suas gavetas, conte a quantidade de coisas que por lá se encontra que com certeza não irá usar. Conte a quantidade de livros em sua estante que nem tempo você tem para ler, os filmes que talvez nem funcionem mais de tanto esperar que você os assista. Roupas que dificilmente cabem suas pernas. Papéis que você não encontra razões para possui-los. Tudo lá, tudo por ai e por mais que você queira você não consegue desfazer.



A arte do desapego infelizmente não é algo que possa ser ensinado, pelo menos não na sua forma espontânea e plena. É necessário que algo desperte o individuo e ele compreenda que desta vida nada se leva, a não ser a vida que a gente leva. Acredito que todo seu conhecimento e experiência ninguém pode tirar de você. Mas as coisas materiais, a beleza, a saúde, as pessoas ao seu redor e até mesmo sua vida, você querendo ou não vão ser tirados de você. Sua tarefa diante disto esta ligada a liberdade de escolha de cada um, se revoltar e considerar que tudo é injusto e injustiça enchendo seu coração de ódio contra tudo e todos. Ou simplesmente buscar compreender que tudo se transforma na natureza, que por mais que imaginemos ter o controle absoluto sobre tudo, muitas coisas iram fugir ao nosso alcance. E ter consciência que a revolta nos paralisa, impedindo em nós o avanço e o progresso, enquanto que aceitando a perda, abre-se o caminho para o recomeço e renovação e para o novo.

O questionamento pode surgir em relação à perda de um ente querido, como simplesmente aceitar uma perda neste nível. Somente a compreensão de que todos sem exceção um dia seremos convidados a se retirar deste planeta, pode aliviar a dor desta situação, e por mais que queiramos não é possível prever com certeza o momento que isto vai ocorrer. E somos seres complexos de mais para se acabar assim, tenho certeza que a vida continua em outro plano.

Agora eu pergunto, fez sentido?


Caslu Nascimento

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